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9. SIMULAÇÕES DE PROJETO

Apresenta-se a seguir as simulações hidrológicas de projeto, para as condições de ocupação urbana em 1998 e 2020. Em relação às condições calibradas para a cheia de 1983, foram considerados os coeficientes futuros CN, tendo em vista as estimativas realizadas das áreas permeáveis e impermeáveis da bacia, mostradas no Quadro 9.1.1. Os valores equivalentes futuros de CN constantes do Quadro 9.1.1 consideram o valor CN=95 para a fração de área impermeável Aimp e o valor correspondente do CN natural da bacia para a fração de área permeável (1- Aimp).
 
 


Quadro 9.1.1Coeficientes CN


 

9.1 Vazões de Projeto em 1998 e 2020

O Quadro 9.1.2 seguinte mostra os valores de vazões máximas nos locais de interesse, para as duas condições de chuvas, conforme mencionado no item 8.2.2, a saber:

T (anos)
CONDIÇÃO ANO Penha
Q(m³/s)
Aricand
Q (m³/s)
Tamand
Q (m³/s)
Retiro
Q(m³/s)
ESouza
Q (m³/s)
2
1
1998
88
149
272
310
352
5
1
1998
162
237
417
483
553
10
1
1998
207
287
504
580
666
25
1
1998
308
388
687
789
905
50
1
1998
400
477
837
946
1091
100
1
1998
492
567
976
1112
1279
               
2
1
2020
91
168
300
346
392
5
1
2020
166
249
461
530
605
10
1
2020
213
301
551
633
723
25
1
2020
314
409
753
851
974
50
1
2020
418
490
900
1015
1167
100
1
2020
501
591
1053
1185
1380
               
2
2
1998
90
158
314
330
375
5
2
1998
166
246
495
521
589
10
2
1998
214
296
597
629
709
25
2
1998
319
400
803
845
951
50
2
1998
416
490
980
1030
1158
100
2
1998
513
577
1150
1207
1355
               
2
2
2020
93
174
358
373
418
5
2
2020
171
268
553
578
647
10
2
2020
220
321
661
690
773
25
2
2020
327
429
877
917
1025
50
2
2020
424
522
1062
1110
1239
100
2
2020
522
611
1238
1293
1442
Quadro 9.1.2 – Vazões em 1998 e 2020

 Para comparação com os valores obtidos e mostrados no Quadro 9.2, são repetidos no Quadro 9.1.3, os valores das vazões de projeto de ampliação da calha do rio Tietê (PROMON 86).
 
 

T (anos)
SIMULAÇÃO ANO Penha
Q(m³/s)
Aricand.
Q (m³/s)
Tamand
Q(m³/s)
Retiro
Q(m³/s)
ESouza
Q(m³/s)
2
PROMON 86
2005
-
-
-
-
-
5
PROMON 86
2005
224
270
530
552
702
10
PROMON 86
2005
284
349
612
641
814
25
PROMON 86
2005
366
459
753
791
1005
50
PROMON 86
2005
430
547
871
916
1165
100
PROMON 86
2005
498
640
997
1088
1334
100
Hidroplan 95
2020
325
610
1290
1350
1615
100
Condição 1
2020
501
591
1053
1185
1380
100
Condição 2
2020
522
611
1238
1293
1442
Quadro 9.1.3 – Vazões de Projeto - PROMON 86 para o ano 2005
(Sem considerar contribuição do Rio Pinheiros)

Comparando-se, no Quadro 9.1.3, as quatro últimas linhas, para o período de retorno T=100 anos, observe-se que:


 

9.2 Simulações Complementares

 

9.2.1 Bacia do Tamanduateí

No Quadro 9.1.2, a Condição 2 de chuvas para T=100 anos de período de retorno  (ano 2020), resultou na vazão de 1.238 m³/s a jusante da foz do rio Tamanduateí e 611 m³/s, a montante da referida foz. Isto significa que, para a condição adotada da chuva com 24 horas de duração, a contribuição da bacia do rio Tamanduateí é da ordem de 600 m³/s, a qual já supera a vazão de projeto de canalização do seu trecho final, igual a 484 m³/s (projeto CNEC, 1977).  A bacia do Tamanduateí deverá merecer uma análise mais detalhada no âmbito deste Plano Diretor de Macrodrenagem, considerando outras condições de eventos hidrológicos isolados para essa bacia, adotando-se outras durações de chuvas inferiores a 24 horas. Entretanto, a título de ilustrar as conseqüências da consideração de tais eventos, foram realizadas algumas simulações complementares, para as condições a seguir descritas.

T=50 anos  => P=   87  mm
T=100 anos => P=   95  mm
T=50 anos  => P=   99 mm
T=100 anos => P= 109 mm
T (anos)
ANO Penha
Q(m³/s)
Aricand
Q (m³/s)
Tamand
Q (m³/s)
50
2020
275
430
1.010
100
2020
349
527
1.200
Quadro 9.2.1 – Chuva de 6 horas na bacia do Tamanduateí

 

9.2.2 Bacias do Aricanduva e Cabuçu de Cima

Uma situação hidrológica mais crítica seria admitir a mesma chuva média de 6 horas do ítem anterior (somente na bacia do Tamanduateí), ocorrendo simultaneamente nas bacias dos rios Cabuçu de Cima, Aricanduva e Tamanduateí.

Nestas condições, resultaram os seguintes valores de vazão ao longo do Tietê:

T (anos)
ANO Penha
Q(m³/s)
Aricand
Q (m³/s)
Tamand
Q (m³/s)
50
2020
275
520
1.087
100
2020
349
640
1.298
9.2.2 – Chuva de 6 horas nas bacias do Tamanduateí,
Aricanduva e Cabuçu de Cima

Nos quadros 9.2.1 e 9.2.2, para T=100 anos (chuva de 6 horas), a contribuição individual da bacia do Tamanduateí resultou da ordem de 700 m³/s, ou seja, 100 m³/s maior do que sua contribuição no evento de 24 horas, que foi de 600 m³/s. Para a calha do rio Tietê, durante um evento de 6 horas, a vazão máxima resultou em 1.298 m³/s, bastante próxima da do evento de 24 horas (1.238 m³/s no Quadro 9.1.2). A vazão de 700 m³/s supera a vazão de projeto da canalização (Q=484 m³/s), em cerca de 220 m³/s.

Portanto, tanto em relação à capacidade de sua canalização quanto pela restrição da calha do rio Tietê, o rio Tamanduateí apresenta um excesso de vazões, da ordem de 200 a 220 m³/s. Conforme anteriormente mencionado, para atender a condição do período de retorno de 100 anos, este excesso teria que ser desviado ou amortecido na própria bacia do Tamanduateí.

Para o diagnóstico específico complementar dessa bacia, estão sendo analisados alguns eventos isolados ocorridos em 1982, 1983 e 1991. Estudos anteriores já apontavam vazões de até 800 m³/s para o trecho final canalizado da bacia do Tamanduateí.


 

9.3 Capacidade Atual da Calha - 1998

a) sem diques de proteção nas pontes
Local
Estaca
Situação
Coroamento do dique El.
 Ponte Anhanguera
~1180
Construído
720,55
 Ponte Casa Verde
~1575
Construído
722,20
 Ponte Bandeiras
~1695
Construído
722,00
 Ponte Aricanduva
~2090
Não construído
722,60
Quadro 9.3.3 – Cotas dos Diques de Proteção na Marginal Tietê
Para verificar os benefícios da implantação desses diques foram verificadas outras situações de chuvas, em termos de duração e distribuição espaço-temporal que podem ser mais críticas, considerando-se eventos isolados ocorrendo nas sub-bacias dos rios Tamanduateí, Aricanduva e Cabuçu de Cima.

Foram analisadas chuvas com 6 horas de duração, sobre as três sub-bacias já mencionadas, para T=5 e T=10 anos de período de retorno, considerando-se que as 2 horas mais críticas da duração total estivessem concentradas no 2. Quartil de duração, cuja distribuição está ilustrada na Figura 9.3.2 seguinte.
 
 


Figura 9.3.2 – Chuvas de 62,8 mm (T=5 anos) e 73,7 mm (T=10 anos)em 6 horas

Para o restante da bacia, foram consideradas as precipitações acumuladas de 56 e 65 mm, respectivamente, para T=5 e T=10 anos de período de retorno.

O quadro seguinte mostra as vazões obtidas com a aplicação do modelo CABC.

TRECHO
Vazão (m³/s)
T=5 anos
Vazão (m³/s)
T=10 anos
Penha
74
117
Cabuçu Cima
162
245
Aricanduva
257
374
Tamanduateí
527
748
Cabuçu de Baixo
533
755
Foz do Pinheiros
537
759
Quadro 9.3.4 – Picos Máximos Calculados
O quadro 9.3.5 mostra os cálculos do remanso, para as vazões máximas do Quadro 9.3.4. Observe-se, nesse quadro, que a implantação dos diques traz um grande benefício, permitindo controlar eventos hidrológicos entre T=5 e 10 anos de período de retorno, mesmo considerando eventos hidrológicos mais críticos com duração de 6 horas. Sem os diques (ver Quadro 8.3.2), no máximo se conseguiria controlar eventos correspondentes a T=2 anos de período de retorno, com 24 horas de duração.

Quadro 9.3.5 – N.A. calculados com diques de proteção

 

9.4 Capacidade de Projeto

Apresentam-se a seguir, os resultados dos cálculos hidrodinâmicos de linha d’água, com auxílio do modelo hidrodinâmico CLIV. O perfil da calha do rio Tietê, entre as barragens da Penha e Edgard de Souza foi modelado, considerando o sistema de estacas adotado (estacas de 20 em 20 m). Durante o ano de 1998, a empresa MAUBERTEC (ref. [10]) procedeu a alguns ajustes geométricos do projeto Promon, durante a elaboração do detalhamento do projeto executivo. Em virtude de condicionantes de projeto para o alargamento da calha, em alguns locais, o greide final escavado será rebaixado em cerca de 0,50 m, em relação ao projeto original. Além disso, o projeto final considera apenas duas diferentes declividades, ou seja, 0,00015 m/m entre a barragem da Penha (~estaca 2253) até a ponte do Quartel (~estaca 701) e 0,0001 m/m desde a ponte do Quartel até o início do lago de Edgard de Souza. Os referidos ajustes finais de projeto foram realizados, mantendo-se as vazões restritivas do Projeto Promon, conforme mostrado no Quadro 9.4.1 seguinte:
 
 

LOCAL
ESTACA
Trecho
Vazão no Tietê
(m³/s)
Excesso do Rio Pinheiros (m³/s)
Vazão total do trecho (m³/s)
T.R. (anos)    
25
50
100
25
50
100
25
50
100
Penha
~2253
-
-
-
-
-
-
-
-
-
 
Cabuçu Cima
~2185
1
366
430
498
-
-
-
366
430
498
Aricanduva
~2100
2
407
482
561
-
-
-
407
482
561
Tamanduateí
~1650
3
459
547
640
-
-
-
459
547
640
Cabuçu Baixo
~1385
4
753
871
997
-
-
-
753
871
997
Pinheiros
~1012
5
791
916
1048
-
-
-
791
916
1048
Barueri/Cotia
~430
6
815
948
1088
75
85
100
890
1033
1188
E. Souza
~5
7
1005
1165
1334
75
85
100
1080
1250
1434
Quadro 9.4.1 – Vazões de restrição da calha (Maubertec 1998 igual projeto Promon 86)

O reservatório da barragem Edgard de Souza (~estaca 5) inicia-se aproximadamente nas imediações da estaca 200, seção limite para os serviços de ampliação da calha, sob a responsabilidade do DAEE. Em torno desta estaca, há um controle natural das vazões do rio, uma vez que, a jusante, o fundo do rio constitui-se de uma rampa com inclinação da ordem de 6%. A partir do momento em que foram implantados os descarregadores de fundo em Edgard de Souza, definitivamente houve o convencimento no meio técnico de que esta barragem jamais causou enchentes na RMSP, mesmo quando operava apenas com suas comportas de superfície.

Assim, os níveis d’água iniciais para cálculo de linhas d’água, a partir das proximidades da barragem de Edgard de Souza, não são relevantes, tendo em vista que ali se estabelece o regime crítico de escoamento, para qualquer condição de vazão, desde que as comportas de fundo estejam operando. Para os cálculos que serão apresentados a seguir, foram considerados os mesmos níveis de partida adotados no projeto Promon 86, para representar as condições de contorno exigidos pelo modelo CLIV. O modelo se incumbe de impor as condições de alturas críticas de escoamento no trecho mencionado.


 

9.4.1 Ampliação Total da Calha

O projeto de ampliação da calha do rio Tietê, desde a barragem de Edgard de Souza até a barragem da Penha, conforme concebido em 1986 e atualizado em 1998, reveste-se de fundamental importância para combater os danos e transtornos causados pelas enchentes na RMSP. Tal projeto multiplicará por cerca de duas vezes a capacidade atual da calha do rio Tietê.

Tal projeto de ampliação baseia-se em três premissas básicas, de fundamental importância, a saber:

a. Isolamento entre as bacias dos rios Tietê e Pinheiros

Durante eventos chuvosos significativos em toda a bacia do Alto Tietê, com ocorrência simultânea de chuvas também significativas na bacia do rio Pinheiros, o projeto de ampliação considera que os rios Tietê e Pinheiros encontram-se isolados pela estrutura de controle de Retiro. Em condições excepcionais, podem ser admitidas à calha do rio Tietê, apenas as vazões excedentes do rio Pinheiros, mostradas no Quadro 9.4.1, ou sejam: 75, 85 e 100 m³/s, respectivamente, para T=25, 50 e 100 anos de período de retorno;
 

b. Condições de urbanização a montante da Penha

A vazão de projeto, no entorno de 500 m³/s, no local da barragem da Penha, resulta de um cenário tolerável de ocupação futura da bacia de montante, baseado num crescimento médio anual de população de cerca de 1,5%, até o ano 2020. Assim, conforme o Quadro  9.1.1, foram estimadas as frações de áreas impermeáveis variando entre 2% (região das cabeceiras -> densidade populacional = 11 hab/ha) e 23,5% (barragem da Penha -> densidade = 31 hab/ha), enquanto que para as regiões mais densamente urbanizadas, esta fração de área impermeável foi estimada em 53,5% (bacia do Tamanduateí -> densidade = 104 hab/ha). Deverão ser tomadas medidas e envidados todos os esforços no sentido de bloquear a ocupação das várzeas, evitar projetos de canalização que venham a acelerar o fluxo hidráulico e criar condições de amortecimento, a montante, com o objetivo até de reduzir o aporte acima mencionado na barragem da Penha.
 

c. Contribuições da bacia do rio Tamanduateí

Grandes esforços deverão ser realizados no sentido de controlar as descargas do rio Tamanduateí, cuja capacidade de escoamento no seu trecho final canalizado é de 484 m³/s. Para eventos chuvosos com 24 horas de duração, com base nas características do evento ocorrido em 1983, para T=100 anos de período de retorno, a contribuição individual do rio Tamanduateí poderia atingir cerca de 600 m³/s, já superando a sua mencionada capacidade de escoamento. Durante eventos de chuvas mais intensas, de menor duração, estas descargas poderão superar  800 m³/s, para o mesmo período de retorno.

Outro assunto que tem sido bastante discutido ultimamente, no âmbito do órgãos responsáveis pelo gerenciamento dos recursos hídricos no Estado, trata-se da permanência futura da barragem móvel existente no rio Tietê, na região do Cebolão,  situada imediatamente a jusante da foz do Rio Pinheiros.

Tal barragem foi concebida e implantada para operar temporariamente, por volta de 1987, para auxiliar os serviços de derrocamento a seco da calha, no trecho de jusante até a barragem Edgard de Souza. A exequibilidade desse derrocamento a seco que, na época, representava sensíveis economias de custo em relação ao derrocamento sub-aquático, seria garantida com o desvio das águas do rio Tietê para o interior do Canal Pinheiros Inferior, com o auxílio da barragem móvel, controlando-se apenas vazões sanitárias para jusante, através de duas das suas nove comportas. Os níveis a jusante podiam ser rebaixados, graças à possibilidade de operar as descargas de fundo em Edgard de Souza. Por questões ambientais, atualmente o sistema de reversão Tietê-Pinheiros somente pode operar durante eventos de cheias.

Conforme o projeto, a barragem móvel é dotada de 9 vãos de comportas, com largura de 8 m cada uma, tipo Volet, com soleira implantada na cota 712,60, totalizando um vão livre de 72 m. Foi dimensionada para descarregar uma vazão máxima da ordem de 800 m³/s, no N.A. máximo igual a 720,60, supondo-se nestas condições que, com as comportas totalmente abertas, o N.A. jusante é igual a 720,40. Em outras palavras, a vazão de projeto, pode ser escoada com um desnivel de apenas 0,20 m. Verificações no modelo hidráulico reduzido, posteriores à implantação do projeto, indicaram que para a cheia observada em 1989, nas condições de projeto, o desnível real na barragem não ultrapassou 0,10 m.

Com o rebaixamento total da calha, a soleira da estrutura de concreto da barragem, na el. 712,60, estará cerca de 3 m acima do fundo acabado do canal. Assim sendo, os níveis d’água a jusante serão sensivelmente menores, da ordem de 3,5 m, o que possibilitará um funcionamento mais livre dessa estrutura. Embora os níveis futuros sejam sensivelmente menores, espera-se que os desníveis locais na barragem aumentem para cerca de 0,50 a 0,60 m.

Após os serviços completos de ampliação da calha, caso se opte pela permanência dessa barragem, verificou-se que, para manter os mesmos níveis operacionais do projeto (desníveis máximos de 0,20 m) seria necessária a implantação de mais dois vãos de comportas, com soleira em torno da cota 710,00. Estes dois vãos adicionais somados aos 9 vãos existentes na el. 712,60, garantiriam manter as condições futuras de operação da barragem móvel equivalentes às condições atuais de funcionamento, para vazões no Tietê da ordem de 1.200 m³/s (T=100 anos). Para o caso de não se identificar uma finalidade operacional específica que justifique a sua permanência, a barragem móvel deveria ser removida totalmente, conforme concepção original. Dependendo dos custos dessa remoção, a barragem de concreto atual poderia ali permanecer, removendo-se apenas a parte composta do maciço de terra, localizado na ombreira esquerda.

Assim sendo, o Quadro 9.4.2 e Ilustração 9.4.1 seguintes mostram o comportamento dos níveis d’água, com e sem barragem móvel, considerando a ampliação total da calha do rio Tietê, para as vazões de restrição do projeto (Quadro 9.4.1) para o período de retorno T=100 anos. Os cálculos de remanso foram realizados em regime gradualmente variado (~permanente) para permitir comparação com as condições de projeto.
 
 


Quadro 9.4.2 – Linha d’água com e sem BM modificada
(Situação de projeto)

As diferenças DH (metros) mostradas no Quadro 9.4.2 refletem a influência da permanência da barragem móvel, de acordo com as modificações necessárias.

 

9.4.2 Ampliação Parcial da Calha – Até o Tamanduateí

Para o caso de haver algum atraso na execução das obras de ampliação da calha, foi realizada uma verificação do comportamento dos níveis d’água, a montante da barragem móvel, supondo-se que esses serviços de ampliação fossem paralizados nas imediações da foz do rio Tamanduateí. Como se sabe, as regiões mais atingidas pelas enchentes ao longo da calha do rio Tietê estão situadas justamente entre a ponte das Bandeiras e ponte Aricanduva. Obviamente, para serem obtidos todos os benefícios do rebaixamento da calha para a linha d’água para T=100 anos (vazões do projeto de 1986), é necessário que todo o rebaixamento seja completado, até a barragem da Penha.

Entretanto, as simulações adicionais para a ampliação parcial aqui analisada, tiveram o objetivo de investigar se algum benefício já poderia ser conseguido, em relação à capacidade atual da calha em 1998.

Assim sendo, o Quadro 9.4.3 e Ilustração 9.4.2 mostram as linhas d’água para três situações:
 


Os cálculos também foram efetuados em regime gradualmente variado para permitir comparações relativas com as condições de projeto.

Observe-se no Quadro 9.4.3, a diferença de 0,50 m (para T=10 anos de período de retorno) entre a situação com e sem a permanência da barragem móvel atual.

A Ilustração 9.4.2 mostra que a ampliação parcial da calha, até a foz do rio Tamanduateí, atenderia a linha d’agua de projeto. Entretanto, a ponte Aricanduva, localizada a montante, continuaria sendo afetada para situações inferiores a T= 10 anos de período de retorno.


Quadro 9.4.3 – Ampliação Parcial até Tamanduateí
(Vazões do Projeto Promon)


 

9.4.3 Verificação de Outras Condições de Projeto

A linha d’água de projeto para T=100 anos, obedecendo às vazões de restrição para as quais foram dimensionadas as obras de ampliação, conforme abordagem hidrológica apresentada no item 9.1, atende situações de chuvas de 24 horas, em toda a Bacia do Alto Tietê, com características semelhantes à distribuição temporal das chuvas observadas entre 01 e 02/02/83. No mesmo item 9.1, foi abordada uma situação mais crítica, denominada de Condição 2 de chuvas, adotando-se a distribuição de Huff. Para esta condição, foi verificado o comportamento das vazões mais elevadas nos trechos e seus consequentes reflexos nas linhas d’água. O Quadro 9.4.4 seguinte mostra as referidas vazões de verificação, permitindo compará-las com as vazões restritivas decorrentes do projeto de ampliação.
 
 

LOCAL
ESTACA
Trecho
Vazões de Restrição Projeto (m³/s)
Vazões de Verificação Condição 2-CABC (m³/s)
T.R. (anos)    
50
100
50
100
Penha
~2253
-
-
-
-
 
Cabuçu Cima
~2185
1
430
498
424
522
Aricanduva
~2100
2
482
561
424
522
Tamanduateí
~1650
3
547
640
522
611
Cabuçu Baixo
~1385
4
871
997
1062
1238
Pinheiros
~1012
5
916
1048
1110
1293
Barueri/Cotia
~430
6
1033
1188
1195
1393
E. Souza
~5
7
1250
1434
1324
1542
Quadro 9.4.4 – Vazões de verificação da calha (Condição 2-Modelo CABC)

Os valores do Quadro 9.4.4 também incluem, a jusante da barragem móvel (estaca 1012), contribuições de vazão do rio Pinheiros de 85 e 100 m³/s, respectivamente, para T=50 e T=100 anos de período de retorno.

Para esta condição de verificação, foram processados os cálculos dos efeitos hidrodinâmicos (modelo CLIV), para toda a calha do rio Tietê, desde a Penha até Edgard de Souza, num trecho de aproximadamente 45 km. Foram fornecidos ao modelo CLIV, as características geométricas das seções (ver Anexo A) e os hidrogramas parciais gerados pelo modelo CABC, nos pontos tributários de interesse, quais sejam: barragem da Penha, foz do Cabuçu de Cima, Aricanduva, Tamanduateí, Cabuçu de Baixo, barragem móvel, Bussocaba, Carapicuiba e Cotia/Barueri.

Basicamente, os cálculos hidrodinâmicos permitem avaliar a capacidade da calha do rio Tietê em amortecer e propagar os hidrogramas afluentes em cada local. A partir de um mesmo instante inicial de cálculo (t=0), os hidrogramas de jusante vão enchendo a calha, elevando os níveis e provocando efeitos de remanso para montante. Como os picos dos hidrogramas individuais ocorrem em diferentes tempos, a envoltória dos níveis d’água máximos não se associa necessariamente à ocorrência das máximas vazões em cada local. É o caso da barragem da Penha que apresenta um tempo de ocorrência de picos bem mais retardado do que o da RMSP, significando que no instante em que ocorrer a linha d’água máxima, durante um evento de chuvas de 24 horas, os níveis máximos imediatamente a jusante dessa barragem são mais decorrentes dos efeitos de remanso, por causa das altas vazões já ocorrendo antecipadamente a jusante (principalmente devido ao rio Tamanduateí), do que por efeitos de suas máximas descargas.

Foram selecionadas três condições para ilustrar o comportamento das envoltórias de N.A. máximos ao longo da calha do rio Tietê, a saber:
 


Este comportamento está mostrado no Quadro 9.4.5 e Ilustração 9.4.3.

Em linhas gerais, constatou-se que os níveis d’água máximos decorrentes da verificação hidrodinâmica, para T=50 anos, estão muito próximos aos valores de projeto, no trecho mais crítico entre a barragem móvel e a foz do Tamanduateí. Nesse mesmo trecho, a verificação hidrodinâmica para T=100 anos mostra valores de níveis d’água superiores aos de projeto, em cerca de 0,60 a 0,70 m. Estes efeitos diminuem para montante, até a barragem da Penha, graças à não ocorrência simultânea das máximas descargas nessa barragem com os níveis máximos remansados de jusante.

Para ilustrar o comportamento do efeito de amortecimento das vazões afluentes à calha do rio Tietê, mostra-se na Figura 9.4.1 seguinte, o hidrograma de vazões no local da barragem Edgard de Souza, para T=100 anos de período de retorno. Nessa figura estão mostrados o hidrograma total de todas as afluências parciais (soma instantânea das vazões afluentes à calha) e o hidrograma de descargas calculado pelo modelo CLIV.


Figura 9.4.1 – Hidrogramas em E.Souza – T=100 anos


Quadro 9.4.5 – Vazões de verificação
(Condição 2 em regime hidrodinâmico)


 

9.5 Urbanização a Montante da Barragem da Penha

Conforme mencionado no item 9.4.1, do presente relatório, uma das premissas básicas do projeto de ampliação da calha do rio Tietê, no trecho compreendido entre as barragens da Penha e Edgard de Souza, trata-se de preservar, ao máximo, as várzeas naturais ainda existentes a montante da barragem da Penha. Conforme já dito, as condições de projeto admitem frações de áreas impermeáveis, variando entre 2,0 a  23,5%, correspondendo, respectivamente, a densidades populacionais de 11 a  50 hab/ha no ano 2020.

Para se ter uma idéia da influência de uma maior urbanização não controlada, incluindo canalizações futuras do rio Tietê, a montante da Penha, funcionando com uma velocidade média de escoamento entre 1,5 e 1,8 m/s, foi estabelecido o seguinte cenário mais crítico para o ano de 2020:
 


Com estas considerações, resultariam as seguintes vazões ao longo da calha do rio Tietê, para T=100 anos de período de retorno, mostradas no Quadro 9.5.1. No mesmo quadro estão também mostradas as vazões de dimensionamento do projeto de ampliação da calha, ora em implantação.
 
 

TRECHO
Vazão no Tietê com cenário de projeto
(m³/s)
Vazão no Tietê com cenário mais crítico
(m³/s)
Penha
498
1.060
Foz Cabuçu Cima
561
1.190
Foz Aricanduva
640
1.450
Foz Tamanduateí
997
2.020
Foz do Pinheiros
1.048
2.170
Foz Barueri
1.188
2.560
Edgard de Souza
1.434
2.680
Quadro 9.5 – Influência de uma maior urbanização na RMSP
(T=100 anos - ano 2020)

Conforme se observa, diante de um cenário mais pessimista de ocupação da RMSP, para o ano 2020, em relação ao cenário admitido para projeto, as vazões  resultantes na calha do rio Tietê, facilmente poderiam alcançar o dobro da vazão de projeto preconizada em cada local. As autoridades públicas deverão, então, envidar todos os esforços  no sentido de disciplinar,  controlar e até inibir as condições futuras de ocupação de todas as áreas virgens ainda remanescentes nas cabeceiras das diversas sub-bacias da bacia do Alto Tietê, principalmente a região das várzeas localizadas a montante da barragem da Penha.
 


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