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10. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES GERAIS

a.
As adaptações geométricas introduzidas durante o projeto executivo, detalhado pela empresa MAUBERTEC [9], satisfazem rigorosamente a linha d´água de projeto fixada no projeto Promon [4] para T=100 anos. Isto significa que, a partir da execução completa dos serviços de ampliação da calha do rio Tietê, não havendo mais espaço físico para futuras melhorias (excetuando-se soluções mais caras como paramentos de concreto), as vazões do projeto Promon (Quadro 9.4.1) constituem-se em vazões de restrição que deverão limitar futuros aportes.

b.
Assim, a vazão de restrição da calha no trecho compreendido entre a foz do rio Tamanduateí e a foz do rio Cabuçu de Baixo é igual a 997 m³/s, pressupondo-se que, durante eventos de chuvas com 24 horas de duração, admite-se uma contribuição máxima do rio Tamanduateí em torno de 357 m³/s, considerando a restrição de vazão no rio Tietê, a montante da foz do rio Tamanduateí, que é de 640 m³/s.

c.
Os estudos aqui apresentados nos itens 9.1 e 9.2 mostram que, sob determinadas condições de chuvas, a bacia do rio Tamanduateí pode contribuir individualmente com vazões de, pelo menos, 600 a 700 m³/s; a bacia do rio Tamanduateí deverá merecer um diagnóstico específico, por parte deste Plano Diretor, com análise de condições meteorológicas típicas; pode-se, porém, antecipar que uma nova vazão de projeto, no seu trecho final já canalizado, deverá ser da ordem de 800 m³/s, conforme já detectado em estudos anteriores.

d.
Por ocasião de eventos de chuvas com duração de 24 horas, a bacia do rio Tamanduateí poderá comprometer o funcionamento da calha do rio Tietê, no trecho entre sua foz e a do rio Pinheiros, ultrapassando em cerca de 200 m³/s a vazão de restrição nesse trecho, para a linha d´água de T=100 anos; conforme Ilustração 9.4.3 e Quadro 9.4.5 , a linha d´água de projeto poderia ser ultrapassada em cerca de  0,60 a 0,70 m. No mesmo quadro, pode-se hoje diagnosticar que a linha d´água de projeto fixada no referido trecho corresponderia a T=50 anos de período de retorno.

e.
Por ocasião de eventos chuvosos de menor duração, o trecho final canalizado do rio Tamanduateí poderá apresentar uma falta de capacidade da ordem de 320 m³/s, considerando sua restrição própria de vazões que é de 484 m³/s.

f.
Conforme se evidencia, a grande restrição de funcionamento da calha do rio Tietê refere-se às contribuições de vazão do rio Tamanduateí que localmente dobram as vazões no rio Tietê, durante eventos hidrológicos significativos. Alerta-se que esta situação poderá ser ainda bastante agravada, dependendo das condições de funcionamento futuro das canalizações previstas ou em execução no córrego Cabuçu de Cima e rio Aricanduva.

g.
Canalizações futuras planejadas em todas as sub-bacias hidrográficas que, direta ou indiretamente, venham a lançar suas águas pluviais na calha principal do rio Tietê, exigirão a obrigatoriedade do cumprimento de severas medidas restritivas, por parte das diversas Prefeituras envolvidas.

h.
Dentre estas medidas, entendidas como verdadeiros mandamentos fundamentais, destacam-se:
 

i.
Acredita-se que, se o Governo do Estado de São Paulo, através do DAEE, conseguir cumprir sua meta de ampliar a calha do rio Tietê, conforme planejado, e houver garantia de que sua calha permanecerá sempre desobstruída, os problemas de inundação ao longo das vias marginais estarão praticamente resolvidos; com o rebaixamento da calha serão também altamente favorecidas as condições dos desemboques das galerias e córregos que afluem ao rio Tietê.

j.
Quanto às soluções de mais longo prazo, por exemplo, os chamados sistemas de desvio de cheias das bacias hidrográficas, através de túneis, têm se esbarrado quase sempre em restrições e regulamentações de natureza ambiental. Opina-se que soluções desse tipo deveriam ser melhor estudadas e detalhadas, adotando-se sempre uma ótica mais abrangente do problema, procurando sempre maximizar os benefícios e reduzir os custos totais, favorecendo diversas sub-bacias, e não apenas pontos localizados. Preferencialmente, tais soluções deveriam sempre evitar a retirada de água de uma bacia, lançando-a em outra bacia vizinha. Concepções dessa natureza, geralmente de custos bastante elevados, só fazem sentido se a solução contemplar a bacia como um todo, com uma análise custo-benefício mais apurada, que inclua até a possibilidade de eliminar algum conjunto de outras obras planejadas em diversas sub-bacias. Exemplificando, há problemas no córrego do Oratório, já houve estudos para a reversão das bacias do ribeirão dos Meninos e dos Couros, há projeto de um túnel para desviar o rio Pirajuçara para o Canal Pinheiros Superior, há projeto da EMAE para ampliar a capacidade de armazenamento dos canais do Pinheiros e de seus respectivos sistemas de bombeamento, etc. Um exemplo de solução em túnel, de caráter mais abrangente, seria, ao invés de implantá-lo pela margem direita do rio Tietê, conforme já preconizado no passado (com o objetivo único de desviar parte das águas na foz do rio Tamanduateí, conduzindo-as para jusante de Edgard de Souza ou de Pirapora, ou ainda em direção à Baixada Santista), implantá-lo pelo lado esquerdo, com um primeiro emboque no Tamanduateí, na região do Córrego do Oratório ou no rio Aricanduva. Poderia, no seu trajeto, captar parte das águas das bacias dos Meninos e dos Couros, coletar parte da contribuição da bacia do Pirajuçara, além de ainda poder favorecer outras regiões como Barueri e Cotia, desembocando, a jusante de Edgard de Souza. Do ponto de vista geológico-estrutural, o traçado geométrico de um tal sistema, pelo lado esquerdo, poderia ser até mais favorável do que pelo lado direito. Recomenda-se que, para futuros planejamentos de obras na bacia do Alto Tietê, envolvendo a pretensão de soluções dessa natureza, sejam realizados estudos, investigações e avaliações de custos, a nível de projeto básico, para que realmente esse tipo de alternativa possa ser comparada com  outras alternativas já estudadas e melhor detalhadas.

k.
Ainda com respeito à calha do rio Tietê, diagnosticou-se que a barragem móvel, desde que sofra uma adaptação, com implantação de mais dois vãos de comportas da ordem de 8 m de largura cada, preferencialmente instaladas com soleira em torno da El. 710,00, ou seja, cerca de 2,60 m mais baixa que a atual cota da soleira das 9 comportas existentes, na El. 712,60, poderá permanecer, sem prejuízo das suas condições de funcionamento, em termos de sobrelevação de níveis d´água a montante. Conforme mostrado no Quadro 9.4.2 e Ilustração 9.4.1, sua influência relativa é de +0,17 m no local da própria barragem e cerca de +0,06 m na região da foz do rio Tamanduateí, quando são analisadas as linhas d´água do projeto Promon, com e sem a barragem móvel. Já o Quadro 9.4.3 e Ilustração 9.4.2 mostram o comportamento das linhas d´água, com e sem barragem móvel atual para T=10 anos de período de retorno; note-se na comparação entre essas duas linhas d´água que, sem a modificação necessária na barragem, o seu efeito de sobrelevação pode atingir valores iguais a +0,50 m imediatamente a montante e +0,13 m na região da foz do Tamanduateí. Portanto, a barragem móvel, conforme os estudos efetuados poderá permanecer sem maiores prejuízos da linha d’água de projeto fixada para o período de retorno de 100 anos. Funcionará com um desnível máximo de projeto previsto em torno de 0,20 m, conforme sua concepção original, exceto que, com o rebaixamento da calha a jusante, sua capacidade de vazão passará de 800 para 1.200 m³/s, compatível com os valores de projeto.

Como sua remoção não traz qualquer benefício adicional, no que concerne à questão do controle de cheias, haveria um custo associado a sua demolição. Tratando-se de uma obra já existente e que nos últimos 12 anos de operação, não chegou ser responsabilizada por inundações na RMSP, como o foi Edgard de Souza no passado, acredita-se que sua permanência poderia ser bastante útil, a curto e médio prazos, para auxiliar o esquema de operação e manutenção hidraúlica do Sistema de Macrodrenagem da Bacia do Alto Tietê. A barragem móvel seria utilizada para controlar níveis d’água e propiciar calados às barcaças nos serviços de desassoreamento da calha do rio Tietê. Como se sabe, a operação de desassoreamento e dragagem como está sendo hoje efetuada é bastante demorada e pouco eficiente, quando feita a partir das margens. O desassoreamento, com o auxílio das barcaças, facilitaria a execução desses serviços, o transporte do material dragado e menores interferências com o tráfego nas vias marginais.

l.
Com respeito a uma ampliação parcial da calha do rio Tietê, com os serviços sendo executados desde Edgard de Souza (estaca 005) até as proximidades da foz do rio Tamanduateí (estaca 1650), verifica-se que, obviamente, um dos pontos mais críticos sujeitos à inundações, que se refere ao local das ponte das Bandeiras, é solucionado, enquanto o outro ponto mais crítico, referente à ponte Aricanduva, mais a montante, continuará sendo bastante afetado (ver Quadro 9.4.3 e Ilustração 9.4.2).

m.
Finalmente, além das recomendações relativas às sub-bacias em geral, onde as Prefeituras têm o dever e a responsabilidade de nunca piorar as condições de funcionamento dos sistemas de drenagem localizados a jusante e preservar, ao máximo, o que resta das condições naturais dessas sub-bacias, reforça-se aqui uma antiga reinvindicação  aos órgãos estaduais e municipais envolvidos, no sentido de não medir esforços para preservar as várzeas ainda restantes, localizadas a montante da barragem da Penha. Todos os projetos e estudos anteriores, envolvendo a calha do rio Tietê, contam com essa premissa, tão necessária para impedir que as descargas de cheias a jusante dessa barragem, não venham a gerar valores potenciais de até 2.700 m³/s contra cerca de 1.400 m³/s que é a capacidade fixada no projeto de ampliação da calha no local da barragem Edgard de Souza.
 


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